A semana em que os rios morreram
(06/04/03)
Mancha negra de produtos tóxicos já chega a 50 quilômetros de extensão
FELIPE WERNECK
SÃO JOÃO DA BARRA – Depois de praticamente acabar com a fauna dos Rios Pomba e Paraíba do Sul, a mancha negra de produtos tóxicos que vazou há oito dias da Indústria de Papel Cataguases, em Minas, já tinha avançado ontem ao longo de 50 quilômetros de extensão e até 10 de profundidade na costa do Rio, de acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O vento leste deslocava a mancha da foz do Paraíba, em São João da Barra, município que teve 32 km de praias poluídas, até o Cabo de São Tomé, em Campos, e 20 km mar adentro. Caso o vento mudasse de direção, a poluição poderia chegar ao Espírito Santo.
Autoridades admitem que ainda não há como estimar as conseqüências ambientais do acidente, o pior da história do País. Mais de 40 municípios mineiros e fluminenses foram afetados e o corte de abastecimento de água no Rio atinge mais de 700 mil pessoas desde segunda-feira. Pelo menos 55 mil estudantes estão sem aulas nas escolas estaduais.
A poluição acabou com a pesca em água doce e afetou a agricultura, o comércio e o turismo. Peixes de diferentes espécies, jacarés, garças, capivaras, gaviões, bois, bezerros e cavalos morreram contaminados. O presidente do Sindicato Rural de São João da Barra, Getúlio Alvarenga, dono de 400 cabeças de gado, disse que criadores estão construindo cercas para evitar que bois permaneçam na margem do rio.
Conhecida como Cidade das Águas, Santo Antônio de Pádua é o segundo produtor de tomate do Rio e tem praticamente toda sua economia ligada ao Pomba. A plantação de tomate, que seria colhida no próximo mês, foi perdida porque não há água para irrigação. O prefeito, Luiz Fernando Padilha (PSB), foi quem comunicou às autoridades do Estado a presença da mancha devastadora. “Não fomos avisados por ninguém do governo de Minas que havia um vazamento. Quando percebemos o problema, nosso rio já estava morto.”
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