Ilha de Pascoa
(27/01/03)
DO ENVIADO ESPECIAL
Repetidos saques colocaram nos museus do mundo as tabuletas falantes e as esculturas de pequeno porte, em pedra e madeira. Até um moai foi levado e outros, quebrados para o transporte somente da cabeça.
Todos os moai eram esculpidos em Rano Raraku, um vulcão na ponta nordeste da ilha. Depois, eram levados para a região costeira e alinhados em plataformas (Ahu) paralelas ao mar, sempre de costas para ele. A única exceção está em Ahu Akivi, onde sete moai olham para o mar em direção à Polinésia.
O estilo e o tamanho podem mudar, mas a forma dos moai é essencialmente a mesma: um homem representado da virilha para cima, com o maxilar inferior robusto. O nariz, proeminente, tem as narinas bem delineadas. Os lábios são serrados e avançados, em uma expressão de solenidade imperturbável (com uma ponta de desdém, se diria). Enquanto as mãos, com longos dedos estilizados, apontam para o sexo, a cabeça está levemente inclinada para trás, como a olhar para o céu.
Seria correto dizer que os moai representam os sábios após a morte. São virados para o interior da ilha pois os clãs viviam abaixo deles e, assim, os mortos presenciariam a vida da comunidade.
Um moai podia ser esculpido e posto na plataforma antes de um sábio falecer. Até então, era uma simples estátua de pedra. Só quando o sábio morria, era embalsamado e sepultado abaixo da estátua, que ela virava um moai. Nesse momento, a alma do defunto se incorporava à pedra. Os rapanuis continuam respeitando os moai. É proibido entrar nas plataformas e encostar neles, a não ser nos moai que ficaram na fábrica de Rano Raraku -simples estátuas.
Falta de árvores
Nos relatos dos viajantes que chegavam à ilha, é mencionada com frequência a falta de árvores. Estudiosos acreditam que elas teriam sido consumidas, como guindastes e cilindros deslizadores, para transportar os moai. O grande quebra-cabeça dos arqueólogos é responder como os moai foram transportados.
Para perceber as dificuldades que os rapanuis tiveram que enfrentar, é suficiente citar um fato. Em 1993, uma empresa japonesa chegou à ilha para reerguer os 15 moai de Ahu Tangariki que, na década de 60, foram derrubados por um poderoso maremoto.
Foram levadas máquinas especiais para um trabalho estimado de quatro meses. Os ângulos calculados eram insuficientes, e os guindastes caíam ou quebravam. O trabalho terminou somente três anos mais tarde, no final de 1996.
Nesse ponto, ninguém resiste à tentação de citar o livro que marcou uma época: "Eram os Deuses Astronautas?". Nele, Erich von Däniken relaciona semelhanças entre lendas e os mais antigos monumentos espalhados pelos quatro cantos do mundo, na tentativa de provar que o planeta teria sido visitado, em tempos remotos, por alienígenas que deixaram instruções para que o homem iniciasse a arrancada pelo espaço cósmico.
"Até parece que os povos antigos sentiram prazer especial em transportar gigantes de pedra por sobre montanhas e vales (...); os escultores da ilha de Páscoa transportavam suas estátuas-monstros, acabadinhas, de uma pedreira bem distante até o local da ereção", diz um trecho do livro.
A idéia é sedutora, e esse escrito -que fez sucesso quando publicado em 1968, em pleno entusiasmo pelas primeiras conquistas da "nossa" cosmonáutica- não deixa de ser uma bela viagem entre textos antigos e sítios arqueológicos, sem esquecer que a teoria de que seres de outro planeta teriam norteado as construções de grandes monumentos é desacreditada nos meios científicos.
O mesmo capítulo fecha com um aforismo de Thomas Mann: "O positivo no cético é que ele julga tudo possível".
(VINCENZO SCARPELLINI)
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