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Philippe Perrenoud: O futuro da escola nos pertence

(29/07/03)


PHILIPPE PERRENOUD
especial para a Folha de S.Paulo

Os conhecimentos são adquiridos. A engenharia genética não é capaz de incorporá-los aos nossos cromossomos. Eles existem na forma de uma rede. Ou seja, seria preciso transplantar um cérebro inteiro para as crianças... Daqui a 25 anos, portanto, os estudantes ainda terão de aprender para saber, isto é, terão de desenvolver uma atividade mental intensa para compreender, memorizar, comparar, organizar os conhecimentos. Talvez os avanços na área de bioquímica do cérebro serão capazes de produzir substâncias que facilitem ou acelerem os processos mentais. Mas daí a aprender sem esforço nem dor...

É provável, igualmente, que dentro de 25 anos se compreenda melhor o processo da aprendizagem e seus obstáculos, tanto no registro cognitivo como no emocional ou no relacional. Talvez se possa esperar por dispositivos didáticos mais eficazes, auxiliados por programas de computador especializados tão fáceis de usar quanto poderosos.

Será que teremos acabado com o fracasso escolar? Pelo menos dois problemas subsistirão: dar sentido aos aprendizados escolares e lidar com a heterogeneidade dos alunos.

O sentido —ou significado— da escola envolve a relação entre investimento e resultados. Uma pedagogia mais eficaz desencorajará menos os alunos, desesperados em ver que seus progressos têm pouca relação com o tamanho dos esforços empenhados. Mas esse sentido também tem relação com o saber, com o projeto de vida. Por que eu aprenderia a jogar golfe ou a cozinhar se não tenho necessidade ou vontade disso?

Hoje em dia, a escola mal consegue fazer com que todos compreendam o interesse em saber ler ou contar. O que dizer, então, de saberes cuja utilidade não é fácil de imaginar, como a álgebra, a biologia, a história, a filosofia? A escola continua muito despreparada diante dos alunos que não têm interesse em "encher a cabeça de coisas inúteis" e que não percebem o poder e o prazer que esses saberes poderiam lhes trazer.

Os currículos por competências podem contribuir para dar sentido ao saber, ligando-os mais explicitamente à ação. As tecnologias —simulação, realidade virtual— podem ajudar a obter uma melhor representação das práticas sociais para as quais os conhecimentos e as competências são essenciais. Mas não há computador capaz de convencer um aluno a aderir à cultura escolar. O trabalho de mediação dos professores continua a ser essencial para seguir as pistas traçadas pela nova pedagogia e pelas pesquisas sobre a relação entre o saber e a construção do sentido.

Do outro lado, o sistema educativo acolhe crianças e adolescentes muito diferentes. Caso continue "indiferente às diferenças", o fracasso escolar persistirá.

O objetivo é, com frequência, propor a cada aluno situações de aprendizagem adequadas para ele —não padronizadas, mas construídas "sob medida". A pedagogia diferenciada passa por uma nova organização do trabalho (ciclos plurianuais de aprendizagem, cooperação entre professores). É preciso, igualmente, haver ferramentas mais precisas de avaliação formativa e de regulamentação.

Mas nenhuma tecnologia, nenhuma reforma estrutural poderá fazer efeito sem mediação pedagógica. Mas esta, para ganhar eficácia, precisa ser confiada a professores cada vez mais qualificados, com ampla cultura na área das ciências humanas, forte orientação para as práticas reflexivas e capacidade de inovação.

Seria ilusório crer que basta o tempo para resolver os problemas.

A escola, daqui a 25 anos, pode ser ainda menos igualitária e ainda menos eficaz que hoje, se não fizermos nada para enfrentar e resolver seus problemas com nossas próprias mãos. Uma vontade política forte e duradoura pesará mais do que a fé no progresso...

O suíço Philippe Perrenoud, 59, é professor das áreas de currículo escolar, práticas pedagógicas e instituições de formação na Universidade de Genebra. É autor de "Os Ciclos de Aprendizagem" (Artmed, 2003) e "Dez Novas Competências para Ensinar" (Artmed, 2000), entre outros.



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