Arpilleras, a arte popular do registro e da denúncia
O período de ditadura militar e repressão vivida pelos países latino-americanos entre as décadas de 1950 e 1980 marcou definitivamente a história do continente. Milhares de pessoas foram perseguidas, torturadas, exiladas, mortas e muitas continuam desaparecidas. Contudo, esta série de acontecimentos, principalmente o fim das liberdades individuais e dos direitos humanos, motivou o surgimento de vários movimentos culturais de resistência ao obscurantismo, censura e a repressão. Um desses movimentos é a manifestação cultural chilena Arpilleras.
Realizada por meio do edital Marcas da Memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça brasileiro, “Arpilleras da Resistência Política Chilena” é composta por 28 trabalhos originais, feitos em tecido, produzidos entre 1973 e 1980, além de documentos, livros e o vídeo Alitas de Chincol (2002). São traduções do período da ditadura através do olhar de mulheres que sofreram torturas e discriminações típicas do regime, mas que encontraram um caminho para expressar suas emoções e também denunciar o que ocorria nos cárceres chilenos.
Arpillera, ou Juta em português, é uma técnica têxtil que possui raízes numa antiga tradição popular iniciada por um grupo de bordadeiras de Isla Negra, localizada no litoral chileno. Por meio de bordados e restos de tecido feitos em sacos de batata ou farinha, a exposição permite ao visitante conhecer o dia-a-dia de mulheres chilenas, que revelam suas vidas, lutas, tristezas e pequenas alegrias. Durante a ditadura militar, muitas arpilleras foram enviadas a Europa, junto com cartas, para denunciar o que estava acontecendo no país, e, assim, conseguir algum tipo de ajuda. O ato foi interpretado pelo governo chileno com mentiroso e subversivo.
Este trabalho já passou por São Paulo, Recife, Brasília e Porto Alegre e, depois de Curitiba, passará ainda por Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Segundo a produtora da exposição Clara Politi, o objetivo desta itinerância é fazer com que brasileiros e chilenos passem a compartilhar o mesmo sentimento de identidade, com relação ao período vivido pelos países, a fim de que surja o entendimento da arte e da criatividade como formas de se lutar por justiça e democracia. “No chile, as arpilleras foram uma das maiores expressões artísticas de resistência e denúncia da ditadura. No Brasil houveram outras manifestações, como a música e o teatro, mas a violência sofrida foi a mesma”, diz.
De terça a sexta-feira a exposição abre às 9h e fecha às 18h. Já no sábado e no domingo, abre às 9h e fecha às 15h. Além de observar, os visitantes podem aprender a arte arpillera. A última oficina acontece amanhã, das 14h às 18h e no sábado das 9h ao meio dia. Ao todo, são oferecidas 15 vagas e as inscrições são feitas no Memorial. “Com as oficinas, esperamos que as pessoas aprendam uma nova forma de registrarem seus cotidianos e de denunciarem suas questões, ou, ainda, uma fonte de renda”, explica Clara.
A comissão organizadora do III Cepial visitou a exposição e sugeriu que ela voltasse na semana do congresso. Um pedido da produtora Clara Politi à curadora Roberta Basic será feito. Fica a torcida para que dê tudo certo.
Texto e imagem: Vinícius Gallon